sexta-feira, 26 de abril de 2013

'E-books são primeiro passo de uma grande revolução'

O diretor da maior editora universitária dos EUA diz que a tecnologia terá impacto comparável aos tipos móveis de Gutenberg na difusão do saber

Garret Kiely comanda a maior editora universitária dos Estados Unidos, a da Universidade de Chicago, que publica em média 300 títulos por ano, edita 60 periódicos especializados e emprega 250 pessoas. À frente de seus concorrentes, Kiely aceitou prontamente o desafio de incorporar aos negócios os avanços tecnológicos dos últimos anos. Praticamente todos os lançamentos da editora podem ser adquiridos no formato tradicional, o papel, ou no digital, o e-book. Além disso, a comunidade da editora nas redes sociais é fiel e ativa. "Hoje, esse é o meio mais eficaz de alcançar nossos consumidores", diz Kiely. Ele compara a atual mudança à revolução protagonizada pelos tipos móveis de Gutenberg, que no século XV permitiram que os livros fossem produzidos em larga escala, ampliando o acesso de homens e mulheres à cultura escrita. "O desenvolvimento dos e-books é apenas o primeiro passo desse processo. O público consumidor está sedento por novas formas de descobrir e empregar conhecimento."

Em breve, pais decidirão: dar uma pilha de livros ou um tablet aos filhos

Acervo, em formato digital, de obras voltadas a crianças e adolescentes cresce. Para educadores, leitura no dispositivo não traz prejuízos ao aprendizado. O escritor italiano Italo Calvino dizia que clássicos são os livros que propagam valores universais e despertam emoções que, a despeito do tempo decorrido desde a leitura, jamais são esquecidos. "Constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado", escreveu. Cientes dessa riqueza, geração após geração, muitos pais se preocupam à certa altura da vida em reunir esse tesouro em uma estante, presenteando os filhos com uma seleção dos melhores livros. A tecnologia vai adicionar, de maneira crescente, uma questão a essa tarefa: franquear aos filhos uma coleção de livros ou um tablet ou e-reader, o leitor de livros digitais (ebooks), aos quais clássicos e outras tantas obras podem ser adicionados? Sim, muitos clássicos já estão disponíveis para tablets e e-readers, muitos mais estão a caminho e o mesmo vale para obras contemporâneas que servem à formação e ao deleite de crianças e adolescentes.

A ideia de tirar o tradicional livro impresso das mãos das crianças e trocá-lo por um iPad, da Apple, ou similar pode assustar os pais. Mas não causa a mesma reação nos estudiosos. Para estes, não existem restrições para leitura na nova plataforma. "O universo digital exerce fascínio nos jovens e, com ajuda dos tablets, pode apresentar a leitura para esse público de forma surpreendente", afirma Marcos Cezar Freitas, pedagogo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O preço é também um atrativo. Superada a aquisição do próprio dispositivo (a partir de 1.700 reais, no caso do tablet, e 650 reais, para o leitor de ebook), compra-se obras de Machado de Assis e Eça de Queirós, por exemplo, por menos de 4 reias nas lojas virtuais da Apple e da Amazon. A versão impressa sai, no mínimo, pelo dobro. Na loja virtual Aldiko, para a tecnologia Android, sistema operacional que dá vida ao Galaxy Tab, há obras gratuitas – ainda em pequeno número em português, é verdade. Mas essa oferta deve crescer à medida que cresça a demanda – e vice-versa: a procura maior deve forçar a oferta de mais títulos. "A tendência é de expansão", diz Lerner, da Melhoramentos. Para quem ainda se assusta com a ideia de ver uma criança lendo clássicos próprios para a idade como A Ilha do Tesouro ou Vinte Mil Léguas Submarinas em um tablet, vale a lição de Ismar de Oliveira Soares, da USP: o que importa é o conteúdo.


Fonte:
Veja. Abril 

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